Crimes de fraude eletrônica: Por que os golpes pela internet se tornaram o “crime da moda”

Recentemente visitei um ex-aluno, delegado da Polícia Civil em Campinas. Ele me recebeu em seu gabinete, sobre a mesa havia pequenos grupos de boletins de ocorrência físicos, mas um se destacava dos demais pelo alentado volume. Notando minha atenção, já esclareceu que se tratavam de crimes de estelionato na modalidade fraude eletrônica (golpes pela internet). “… Dezenas todos os dias…”.

A conversa tomou esse rumo, indaguei sobre a efetividade das investigações com relação à identificação e punição dos golpistas. A resposta, já sabia, foi desalentadora: a maior dificuldade é rastrear o dinheiro. Assim que o golpista consegue acessar o patrimônio da vítima, inicia uma série de transferências que ultrapassa dezenas. Isso dificulta o rastreamento, pois, a cada nova transferência, é necessário uma nova autorização de quebra de sigilo bancário ao Judiciário, o que torna a investigação lenta.

O que realmente o desanima, desabafou, é que muitas vezes a investigação avança e se aproxima dos autores do crime. Para evitar a punição, os criminosos procuram as vítimas e propõem devolver o dinheiro sob a condição de que se retratem da representação (condição para punição de alguns crimes, dentre eles o estelionato). Na prática, isso encerra a investigação e, consequentemente, impede uma condenação futura.

Com o uso de técnicas de engenharia social extremamente eficazes, essa modalidade de crime acaba sendo beneficiada por algumas circunstâncias. Por exemplo, recentemente, alguns golpistas se passaram por funcionários do setor de segurança de um banco. Contataram uma mulher idosa, informaram que descobriram quem perpetrou a fraude, quase após um ano, e depositaram o valor desviado (R$ 10 mil) corrigido na conta. Com isso, ganharam a confiança da vítima. Dias depois, convenceram-na a “refazer suas senhas” para evitar novos golpes. Resultado: sacaram mais de R$ 300 mil.

A postura recomendável é desconfiar de tudo que fuja à normalidade, incluindo contatos de whatsapp de seu gerente (com a foto dele) fazendo pedidos ou sugestões nunca feitos anteriormente, por exemplo.

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